Universidade Estadual de MS: Programa de Extensão publica livro cujo tema são os direitos das mulheres indígenas

O livro Kunha Remopu’a organizado pelas professoras Célia Maria Foster Silvestre, Veronice Lovato Rossato e Lauriene Seraguza é o resultado de um conjunto de ações desenvolvidas pelo Programa de Extensão “Ojapo Tape Oguata Hina: se faz caminho ao andar” da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), unidade de Amambai. O projeto foi desenvolvido com recursos do convênio PROEXT/MEC/UEMS 2015.

 

Foram impressos 2.500 exemplares que serão distribuídos nas escolas indígenas no início do próximo ano letivo. Parte dos exemplares foi entregue e ficará à disposição para a comunidade universitária nas bibliotecas das 15 unidades da Uems e também na biblioteca da UFGD – Universidade Federal da Grande Dourados.

 

 

O programa contou com a contribuição de muitas pessoas vinculadas a várias instituições e coletivos, como: UFGD, representantes da Kuñangue Aty Guasu (movimento de mulheres kaiowá e guarani) e representantes do Movimento de Professores Guarani e Kaiowá, Coordenadoria de Políticas Públicas para Mulheres do Município de Amambai.

 

A concepção do Programa de Extensão foi em 2013, motivada pela existência de uma linha de financiamento para ações de extensão na Universidade, edital PROEXT/MEC. O objetivo principal era obter recursos para ações desenvolvidas com estudantes kaiowá e guarani na universidade e nas aldeias, promovendo um conjunto de ações voltadas para as temáticas de gênero, direitos e superação das violências contra as mulheres.

 

A professora Célia organizou a obra no período de junho a outubro de 2019, estando em Coimbra, Portugal, onde se encontra desde junho realizando estágio pós-doutoral, junto ao Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra. O estágio pós-doutoral da professora é supervisionado pelo Prof. Dr. Boaventura de Sousa Santos e tem o objetivo de aproximar a percepção e experiências de luta por direitos dos Kaiowá e Guarani das Epistemologias do Sul, área teórica desse sociólogo reconhecido mundialmente.

 

Desenvolvimento da obra

 

Livro capa e contra capa

 

Segundo a professora Célia, quando o projeto começou a ser elaborado a discussão a respeito da violência contra as mulheres indígenas ainda tinha pouca repercussão.

 

“ Ganhava ressonância a discussão a respeito da demarcação de terras, vista como um direito primordial, ou seja, como um direito a partir do qual os demais acontecem. As mulheres, nos últimos anos, juntaram suas vozes para reivindicar o direito aos seus territórios, mas também denunciam as violências de vários tipos que sofrem, dentro e fora dos territórios”, explica.

 

A Kuñangue Aty Guasu, grande assembleia de mulheres kaiowá e guarani, tem se dedicado a esse tema como uma das grandes pautas que fazem parte de suas preocupações.

 

 

Os textos presentes no livro foram construídos a partir de reflexões e depoimentos produzidos pelas mulheres kaiowá e guarani e por mulheres não indígenas que com elas convivem. E também a partir de conversas gravadas durante as Kuñangue Aty Guasu de 2017 e 2018.

 

A professora Célia ressalta também que uma das características da atuação política das mulheres kaiowá e guarani é que elas falam em termos de coletivo, para além do individual. “As pautas delas dizem respeito a todo o contexto político que envolve o povo, o contexto histórico de expropriação e passam pela temática da educação, da saúde, do território, do ambiente, da formação dos jovens, pela violência que vem de fora e aquela que está dentro, também. Os direitos humanos das mulheres estão relacionados ao todo da vida humana”, esclarece.

 

Um dos depoimentos presente no livro é o da Janete Alegre, liderança kaiowá e guarani, que explica o que é ser mulher kaiowá e guarani.

 

 

“ Ser mulher Kaiowá e Guarani é ser tudo. A gente abrange tudo. Não tem como ser uma parte, só. Ela, a mulher, resiste, sofre; ela passa por vários processos. É como se fosse a terra, a natureza. Eu me identifico assim: como os rios que hoje estão se poluindo e da mesma forma como se fosse meu corpo, as veias do meu corpo. E ao mesmo tempo, a natureza. O desmatamento… muitas ervas estão desparecendo, estão morrendo. Eu sou tudo. Eu não posso falar o que sou…. Eu sou a mãe. O que estão fazendo com a constituição e o agravamento das condições do planeta está me ressecando, está me matando. Está matando a vida que eu estou querendo construir. Ao mesmo tempo, ser mulher … eu sou a terra. A terra é uma coisa que você rega, que você cuida. Eu preciso de saúde. E como a terra está se ressecando, me identifico com ela. Estou me ressecando, não tenho mais nutrientes. Estou praticamente sem vida. Estou vivendo por viver. Não sei mais o que fazer. Por isso a gente resiste, apesar de tudo, com as rezas, com as orações. Algo que ninguém mais vê, mas que é algo profundo”, finaliza. (Texto com informações da Professora Célia)

 

Sobre as professoras:

 

  • Célia Maria Foster Silvestre: Docente da UEMS, atuando na Licenciatura em Ciências Sociais e na Pós-Graduação, coordenadora do Programa de Extensão até o início de 2019, atualmente em estágio pós-doutoral no Centro de Estudos Sociais, Universidade de Coimbra, Portugal.

  • Veronice Lovato Rossato: Professora de Ensino Fundamental e Médio, alfabetizadora, bacharel em Comunicação Social/ jornalismo; especialista em jornalismo; licenciatura plena em Redação e Expressão/Língua Portuguesa; mestrado em Educação. Atua na docência da Educação Básica e, principalmente, com formação de professores indígenas. Também assessorou organizações indígenas, particularmente, o Movimento de Professores Guarani e Kaiowá de Mato Grosso do Sul. Assessora a elaboração e edição de materiais indígenas em língua guarani, produzidos por professores destas etnias.

  • Lauriene Seraguza: Antropóloga, doutoranda em Antropologia (USP).  É pesquisadora vinculada ao Grupo de Pesquisa Etnologia e História Indígena (UFGD), Centro de Estudos Ameríndios (USP) e bolsista FAPESP.

 

Fonte: Uems

Em Dourados, Secretaria Municipal de Educação encerra na terça-feira curso de Libras para familiares de alunos surdos

O curso de Libras (linguagem dos sinais) para familiares de alunos das escolas da Rede Municipal de Ensino de Dourados encerra-se na próxima terça-feira, às 19h, na Escola Izabel Muzzi.

 

Realizado pelo Núcleo de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação, o curso começou em maio deste ano com uma carga horária de 60 horas aulas.

 

O coordenador do curso, professor Aurélio da Silva Alencar afirmou que o curso nasceu de uma necessidade verificada na Rede Municipal, que possui hoje 30 alunos surdos matriculados e que faltava apenas oferecer o curso para os familiares destas crianças.

 

Conforme Aurélio, todos estes alunos contam com um intérprete de Libras em sala de aula, além de atendimento educacional especializado no contraturno.

 

Libras é a forma de comunicação e expressão em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.

 

 

 

Aurélio afirmou que a Língua de Sinais deve ser oferecida à criança surda o mais cedo possível, já que se trata de sua língua de comunicação, e é por meio dela que a criança surda poderá interagir e socializar-se com seus pares, como intérpretes de Libras, surdos adultos, outros alunos surdos.

As crianças surdas, filhas de pais surdos, têm sua comunicação mediada pela Língua de Sinais em todos os momentos de interação, porém, o mesmo não acontece com as crianças surdas filhas de pais ouvintes. Quando chegam à escola estas têm que aprender ao mesmo tempo a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa. Porém, com a fluência da Libras, a criança surda poderá ter acesso ao currículo da mesma forma que os alunos ouvintes.

Os familiares por sua vez, ao aprenderem a Língua de Sinais, terão a oportunidade de “conversar” com seus filhos surdos na língua deles, a Língua de Sinais, então poderão comunicar-se na língua natural do filho, não só na parte escolar, mas também em todas as situações familiares.