Pesquisas em cotitularidade: Cartas patente são concedidas à UFMS pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial

O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) acaba de conceder mais duas cartas patente à Universidade Federal de |Mato Grosso do Sul (UFMS), dessa vez em cotitularidade com outras universidades.

 

A carta patente PI 1103021-6, em cotitularidade com a Universidade de São Paulo e a Fundect, refere-se ao “Processo de modificação de superfície de cerâmicas odontológicas cristalinas por meio de aplicação de filme espesso” e tem como inventores Igor Studart Medeiros; Antonio Carlos Hernándes; José Renato Jurkevicz Delben; Angela Antonia Sanches Tardivo Delben e Rodrigo Dalla Lana Mattiello.

 

“Essa patente de inovação pertence ao campo da Odontologia, mais especificamente aos materiais para próteses ou para revestimento de próteses (cerâmica ou vidro) e foi desenvolvida com o objetivo de revelar material e técnica para aplicação de um filme vítreo à base de sílica sobre substrato de cerâmica odontológica cristalina, visando melhorar a união de peças predominantemente cristalinas aos cimentos resinosos utilizados na Odontologia”, explicam os inventores. A carta patente terá vinte anos de validade, contados a partir de 29 de junho de 2011, tendo sido expedida em 22 de dezembro de 2020.

 

Cardanol recém-destilado

Já a carta patente de inscrição BR 102014030002-3, em cotitularidade com a Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD), trata do “Processo eficiente de purificação do Cardanol isolado do Líquido da Casca de Castanha de caju (LCC) e produção de derivados de interesse industrial”, tendo como inventores os pesquisadores Adilson Beatriz, Dênis Pires de Lima, Eduardo José de Arruda, Derisvaldo Rosa Paiva e Teresa Manuel Cossa.

 

A UFMS tem ainda as seguintes cartas patente exclusivas: PI 0502714-4 – Processo de fluoretação dos géis à base de acetatos e formiatos, tendo como agente fluoretante o ácido hidroflurídrico, PI 1004842-1 – Suplemento alimentar derivado do leite humano e seu processo de fabricação, PI 1103619-2 – Dispositivo para localização de centro de termais em voo livre e  BR 10 2013 000192-9 – Dispositivo Automático Programável para Captura de Pequenos Animais.

 

Cardanol

 

O Cardanol pode ser utilizado nas indústrias de cosméticos, sabões, tintas e vernizes, mercado global de venda desse produto, indústria de polímeros, indústria farmacêutica etc. Além disso, é objeto de estudos de inúmeros grupos de pesquisa em todo o mundo.

 

“O Cardanol está presente em cerca de 60% no LCC técnico (resíduo industrial do processo de torrefação das castanhas de caju), além de outros componentes semelhantes (~20%) e o restante é praticamente impurezas de natureza polimérica. O processo consiste primeiramente na diluição do LCC em uma mistura de solventes seguido de filtração em um material denominado de Celite para eliminação dos materiais poliméricos. Após a remoção dos solventes por destilação, o líquido resultante é aquecido em um sistema de destilação a pressão reduzida, obtendo-se o Cardanol com cerca de 80% de rendimento”, explica o professor Adilson Beatriz (Instituto de Química).

 

De acordo com o pesquisador, o Cardanol destilado é um líquido claro que logo se torna amarelado se não for guardado em refrigerador e protegido da luz. O processo de filtração é fundamental para a segunda etapa (destilação a pressão reduzida).

 

“O grande benefício da destilação é ter o Cardanol em mãos para realizar transformações químicas controladas, de forma a agregar valor e essa biomassa brasileira. Assim, inúmeros derivados dessa matéria-prima podem ser planejados e preparados para busca de novos materiais para emprego biológicos e/ou tecnológicos”, completa.

 

O grupo de pesquisa do Laboratório de Síntese e Transformações de Moléculas orgânicas – Sintmol, no Inqui, se dedica a explorar o Cardanol para obter moléculas com potencial aplicação na medicina, na tecnologia, em reações químicas ambientalmente corretas etc. Recentemente, o grupo relatou na literatura especializada a preparação de compostos lipofílicos fluorescentes para uso como marcadores de combustível, antimicrobianos lipofílicos e larvicidas potentes contra larvas de Aedes aegypti; todos eles preparados a partir do Cardanol.

 

“Nesse momento, três doutorandos do Programa de Pós-Graduação em Química estudam o Cardanol: Simone Bittencourt trabalha no desenvolvimento de surfactantes capazes de atuarem como nanorreatores para reações orgânicas sustentáveis, visando a substituição de solventes orgânicos tóxicos por água, Lyvia Moura trabalha na síntese de chalconas para aplicações tecnológicas e biológicas e Felipe Braga recentemente obteve um resultado fantástico com derivados do Cardanol. Dois destes compostos apresentaram atividade antitumoral seletiva frente células tumorais de rim, comparável e até mais potente que a doxorrubicina (medicamento anticâncer usado clinicamente). Este é um resultado preliminar importante pois, infelizmente, as células cancerígenas renais são geralmente resistentes à quimioterapia e os medicamentos utilizados apresentam diversos efeitos colaterais”, explica Adilson.

 

Outro grande ponto positivo é que o LCC técnico é um resíduo industrial e o uso adequado de seus componentes contribui para a preservação do meio ambiente. “Além disso, em vez de exportarmos o LCC técnico em grande quantidade a preço muito baixo, podemos explorar esta matéria-prima para fabricar novos materiais e produtos da Química Fina derivados do Cardanol muito mais valorados, melhorando em muito toda a cadeia produtiva do caju no Brasil”, diz o pesquisador.

 

Em 2017, biossurfactante desenvolvido no Sintmol foi vencedor do “Green and Sustainable Chemistry Challenge”, na Alemanha. O biossurfactante é fabricado utilizando o LCC obtido das cascas das castanhas in natura (sem passar pelo processo de torrefação ou qualquer processo de purificação).

 

O pedido de proteção do processo de purificação do Cardanol foi feito em 2014. Também terá vinte anos de validade, com expedição da carta patente em 12 de janeiro último.

 

“Acredito que nossos objetivos como professores e pesquisadores universitários foram atingidos. Acreditamos que a ciência e inovação são instrumentos de promoção do bem-estar geral de um país e agora estamos à disposição do setor industrial para eventual transferência da tecnologia”, finaliza.

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