Morre o urbanista paranaense Jaime Lerner, autor do projeto de revitalização do centro de Campo Grande nos anos de 1970

Morreu na manhã de hoje (27), às 5h10min, o ex-governador do Paraná e ex-prefeito de Curitiba Jaime Lerner. De acordo com o Hospital Universitário Evangélico Mackenzie, Lerner, que tinha 83 anos, estava internado há cinco dias e veio a óbito em decorrência de complicações de doença renal crônica.Ele foi autor do projeto de revitalização do centro de Campo Grande, nos anos de 1970 e do qual apenas uma parte foi executada, ou seja, o Calçadão da Rua barão do Rio Branco (veja matéria histórica abaixo)

 

Político, arquiteto e urbanista, Jaime Lerner nasceu em 17 de dezembro de 1937 em Curitiba, cidade da qual foi prefeito por três vezes, em mandatos iniciados em 1971, 1979 e 1989. Ele governou o Paraná por duas vezes, de 1995 a 1998, e de 1999 a 2002.

 

Lerner começou sua vida política na Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido ao qual se filiou em 1971, quando foi nomeado prefeito biônico de Curitiba. Entre seus grandes feitos está a abertura de vias exclusivas para ônibus urbanos, algo considerado bastante inovador para a época (1974), que posteriormente veio a formar a Rede Integrada de Transporte da capital paranaense.

 

Em 1988, conseguiu se eleger prefeito pelo PDT e, em 1994 e 1997 venceu as eleições para governador, vindo a trocar novamente de legenda, ingressando no PFL.

 

Em 2002, foi eleito presidente da União Internacional de Arquitetos. Mais recentemente, tornou-se consultor das Nações Unidas para assuntos ligados a urbanismo.

 

Lerner casou-se em 1964 com Fani Lerner, com quem teve as filhas Andrea e Llana. (Fonte: Agência Brasil)

 

Campo Grande: glamour de Capital antes da divisão

 Por Fausto Brites

Aproveitamento das margens dos córregos Prosa e Segredo como um grande parque linear; implantações de estações de embarque e desembarque; e áreas verdes com equipamentos de lazer, além de implantação de ciclovias. Essas obras, a realidade hoje em Campo Grande, que no dia 26 comemora 116 anos, não foram idealizadas recentemente. Elas “nasceram” há 38 anos e faziam parte de um projeto que seria a revolução urbanística da cidade. Uma mudança aguardada e comum traços foram fornecidos com “pompa e circunstância”.

A expectativa era grande naquele dia 14 de julho de 1977.  

Motivo: enfim, seria apresentado o projeto do urbanista Jaime Lerner, com pretensões de fazer de Campo Grande, a “Cidade Morena” e “Capital Econômica” de Mato Grosso, muito mais charmosa e graciosa, com melhorias no presente com os olhos voltados para o futuro, como era voz corrente pelos entusiastas das mudanças.

O prefeito era Marcelo Miranda Soares, engenheiro, que, depois de administrar alguns órgãos do Estado, conquistou o comando do município, com apoio do governador Pedro Pedrossian e do seu antecessor Levy Dias. Ao tomar, decidiu apostar em uma cidade moderna. 

Ele tinha os dois principais motivos para isso: uma obrigação inerente ao cargo de fazer o melhor pelo município e, por ter participado de ocorrências em diversas esferas políticas, recebera a certeza da divisão de Mato Grosso, com a consequente criação do Estado de Mato Grosso do Sul. Assim, contratado por ele, Jaime Lerner aportou com sua equipe para dar início aos trabalhos.

Desde fevereiro daquele ano, portanto, o futuro projeto de mudanças tornado-se o motivo de comentários na cidade. O jornal Correio do Estado acompanhava a evolução dos trabalhos. Na edição de 26 de fevereiro, por exemplo, uma das manchetes era “Transportes de massa, área de lazer e humanização, como metas de Lerner para Campo Grande do futuro”. O jornal de 23/24 de abril informava: “Em 150 dias, Campo Grande terá plano de urbanização”. A chegada do mês de julho trouxe também o tão esperado “presente e futuro” da já sonhada Capital de Mato Grosso do Sul. Massas e massas, além de slides, integravam o programa “A Estrutura Urbana Proposta para Campo Grande”. A data da apresentação não poderia ter sido mais emblemática: 14 de julho, ainda hoje nome da principal rua da cidade e para uma previsão previsão de intervenção urbanística especial, ou seja,

O mais interessante é que, apesar de ser a obra que mais causava expectativa, não se concretizou no local previsto, sendo implantada apenas num trecho da Rua Barão do Rio Branco.

No dia da apresentação pelo urbanista Jaime Lerner, o jornalistas lotaram o gabinete do prefeito Marcelo Miranda. O projeto impressionou a todos.

O jornal Correio do Estado, na edição do dia seguinte, 15 de julho, trouxe a reportagem de uma página do projeto. “Calçadões: a grande vitória do pedestre; transportes, a salvação do trabalhador ”foi o título da matéria principal. Os demais: “Um programa muito arrojado”, “O Centro Cultural, áreas de lazer, os fundos de vales, a urbanização” e “Ônibus voltam ao centro: um a cada 5 minutos nos bairros”. Marcelo deu início às obras, mas deixou a prefeitura para assumir o governo. O projeto foi interrompido em algumas administrações. Hoje, o ex-prefeito, o ex-senador e ex-governador Marcelo Miranda fala com orgulho do projeto e alerta:
– Cidade sem planejamento está liquidada.

Título original da matéria publicada em 24 de agosto de 2015 na coluna 40 aos de Leads e Lida: Glamour idealizado há 38 anos para futura Capital do Estado de Mato Grosso do Sul

(Matéria original foi publicada no Correio do Estado no dia 15 de julho de 1977 com o título “Calçadões: a grande vitória do pedestre; transportes, a salvação do trabalhador”

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