Seis PMs viram réus por agredirem mulher em Bonito; turista estava algemada quando foi agredida em delegacia

O 2º tenente da Polícia Militar, André Luiz Leonel, e outros cinco militates, com patentes de cabos e soldados, foram denunciados à Justiça e viraram réus pela agressão de uma turista, de 44 anos, ocorrida em setembro do ano passado, em Bonito.

 

Vítima estava algemada quando foi agredida com socos e chutes, dentro do quartel da Polícia Militar. (Veja o vídeo abaixo).

Segundo informações, a mulher foi presa por alguns crimes, dentre eles, ameaça e desacato, ao tentar comprar comida para sua filha autista em um restaurante do município

 

Conforme a denúncia do Ministério Público de Mato Grosso do Sul (MPMS), o tenente causou na vítima lesão corporal de natureza leve e a injuriou, “ofendendo-lhe a dignidade e o decoro”.

 

Os demais denunciados, cabos Osvaldo Silvério da Silva Júnior, Fábio Carvalho José e soldados Itamar Ribeiro de Oliveira e Rosimeire Araújo Alves, conforme o MP, “deixaram de praticar, indevidamente, ato de ofício”, ao não darem voz de prisão ao tenente, “movidos pelo sentimento pessoal de corporativismo”.

 

Já o soldado Rodrigo Ferreira Ávalo, conforme a denúncia, também deixou de praticar ato de ofício ao não comunicar o caso ao seu superior hierárquico.

 

O tenente foi afastado da corporação em novembro do ano passado, quando as imagens foram divulgadas e o caso veio a tona.

 

O caso

 

Narra a denúncia que, no dia 26 de setembro de 2020, a guarnição militar foi acionada para atender uma ocorrência em um restaurante de Bonito.

 

No local, mulher teria ofendido e ameaçado proprietários após ser informada que seu pedido não estava pronto. Em seguida, ela voltou para o hotel onde estava hospedada.

 

Foto: MS Notícias

Policiais foram até a pousada e informaram que a mulher seria conduzida à delegacia.

 

Ela então teria passado a ofender os policiais, sendo algemada e colocada no compartimento de presos da viatura.

 

No quartel da Polícia Militar, turista foi colocada em uma cadeira e informada que seus filhos iriam para um abrigo. Ao pedir para ligar para o marido, ela passou a ser ofendida pelo tenente.

 

A mulher retrucou e foi agredida com socos e chutes. As agressões pararam quando uma soldado interveio, segurando e levando o tenente para longe da vítima.

 

Outros policiais também chegaram a apartar e interferir na ação, conforme mostra o vídeo, mas não reportaram os fatos ao comandante ou oficial do dia.

 

Consta ainda na denúncia que o tenente pediu para que um soldado apagasse as imagens que lhe incriminavam, o que não foi possível devido ao acesso para edição ser feito apenas pela empresa responsável.

 

Denúncia foi aceita pelo juiz da Vara de Auditoria Militar, Alexandre Antunes da Silva, que designou a oitiva da vítima e testemunhas de acusação para o dia 12 de abril.

 

Versão da vítima

 

A vítima relata que ganhou passagens para Bonito do marido e foi com as três filhas, incluindo uma criança autista, para o município.

Quando chegou na pousada, a família foi para o restaurante em frente ao local para jantar e comprou quatro refeições. A dona do restaurante pediu para que o pedido fosse buscado após meia hora.

 

Segundo ela, ao voltar para buscar a refeição, uma funcionária teria se recusado a atendê-la e passou a gritar e empurrá-la.

 

“Quando ela me empurrou eu caí no chão, com a bebê, ai deixei minha bebê no chão e fui para cima dela. Minha filha vendo isso veio e falou ‘mãe não precisa, vamos para casa’. Fomos para o apartamento, aí demorou 5 a 10 minutos a polícia chegou”.

 

A polícia chegou no apartamento e a mulher de 44 anos explicou que precisava de alguns minutos para acalmar a filha, que possui autismo. Nesse momento, o policial militar, Leonel, a puxou pelo cabelo e levou a mulher até o camburão.

 

Antes de ser levada a delegacia, a vítima pegou o celular para ligar para o marido, também PM. O tenente pegou o telefone, jogou no chão e mandou ela calar a boca. Então, os policiais a algemaram e levaram para a delegacia.

 

“No caminho ele foi me falando que eu fazia programa, que ele já sabia da minha vida e eu falei que ele não me conhecia e que era para chamar meu marido. Aí ele abriu o camburão e meu mais um tapa e falou ‘cala boca’”, detalha a vítima.

 

Ao chegar na delegacia, o policial afirmou que os filhos da vítima seriam levados pelo Conselho Tutelar.

 

“Eu entrei em desespero porque minha filha não fica longe de mim. Eu falei ‘me dá meu telefone para eu ligar para o meu marido’, na hora que eu levantei, ele me segurou e me empurrou e aconteceu toda aquela cena”.

 

A mulher explica que a filha conseguiu falar com o pai quando chegou ao abrigo. O homem estava em Corumbá e chegou em Bonito em três horas. Ele buscou as crianças e se dirigiu para a delegacia da Polícia Civil.

 

“Fiquei ali 48 horas, foram as piores horas da minha vida, ai nesse decorrer ele ligou lá na polícia, tentou falar com o tenente, mas ninguém atendeu ele. Fui sair no domingo a noite, pagamos a fiança de 2 mil reais”, explicou a mulher.

 

“Ninguém me bateu a não ser o Leonel, ninguém encostou em mim a não ser o Leonel. Ele que a todo momento me espancou, nem me bateu, me espancou”, concluiu.

 

 

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