Mato Grosso do Sul, 36 anos depois da criação

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Há 36 anos, o dia 11 de outubro amanheceu em festa na comemoração da concretização do sonho de mais de 80 anos, quando se iniciaram os primeiros debates do movimento divisionista. Na data, 50 mil pessoas concentravam-se, com bandeiras, faixas e música nas ruas da região central de Campo Grande. MS01

Ainda no dia 10 de outubro, todos já aguardavam o anúncio da criação de Mato Grosso do Sul, também com festa, participando de baile no Rádio Clube. As comemorações incluíram alvorada festiva, desfile e passeata, organizada pelo Jornal Correio do Estado e pela Rádio Cultura, percorrendo a Rua 14 de Julho, Avenida Mato Grosso, 13 de Maio, Barão do Rio Branco e seguindo até a Ernesto Geisel. A noite terminou em carnaval de rua. Embalaram a festa ainda fanfarras e seis mil fogos de artifício.

O dia foi decretado feriado, por iniciativa da Câmara de Vereadores. Enquanto a euforia tomava conta das ruas de Campo Grande, um grupo de 860 convidados foi a Brasília em um Boeing fretado para assistir à cerimônia para oficializar a divisão territorial e econômica entre os dois estados. O evento, com a assinatura da Lei Complementar número 31 pelo então presidente Ernesto Geisel, durou apenas 11 minutos.

A tarefa anunciada no dia 11 de outubro de 1977, há exatos 36 anos, foi considerada imensa pelo então presidente Ernesto Geisel: construir praticamente dois estados. Esta foi a declaração logo após a cerimônia em Brasília para assinatura da Lei Complementar número 31, que oficializou a divisão de Mato Grosso, conforme noticiava à época o Correio do Estado. Nascia ali Mato Grosso do Sul.

A missão de construí-lo, entretanto, não parecia tão árdua. O sul de Mato Grosso era responsável por mais de 75% da arrecadação de todo o Estado. Assim, com a economia pujante, o estado recém-criado vivia tempos áureos. Era o maior produtor de soja do País e nascia com a perspectiva de ter o maior rebanho do Brasil. Hoje, ocupa a quinta e quarta posições, respectivamente.

No caso da soja, Mato Grosso ocupa a liderança na produção, seguido pelos estados do Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e, na quinta colocação, Mato Grosso do Sul. O estado vizinho foi beneficiado também por ter ficado com a maior área, mais que o dobro. Em Mato Grosso do Sul, o desafio e a motivação para prosseguir a cada dia na construção do Estado continuam.

O professor de História Carlos Prado comenta que Mato Grosso do Sul ainda é um grande produtor de soja, mas seu cultivo não cresceu nos últimos anos, perdendo terreno para outras culturas, como o milho, a cana-de-açúcar e até mesmo eucalipto.

“Desde a década de 1990, tem crescido a produção de cana destinada ao setor sucroalcooleiro e os investimentos nessas áreas aumentaram ainda mais na última década com a abertura de novas indústrias para a produção do etanol”, afirmou.

Inicialmente, também houve destaque para a produção de erva-mate na região sul do Estado. Hoje, a produção industrial e novas fábricas de celulose também representam avanços significativos.

Prado aponta para um problema mais grave, que não tem relação com o ranking de produtor de soja ou gado em relação ao Estado. “Historicamente Mato Grosso do Sul tem uma economia pautada na agropecuária, que é dirigida por latifúndios. O resultado é a concentração de terras nas mãos de poucas famílias, a exportação predominante de bens primários e as desigualdades sociais”, acrescentou.

Nova festa

Em janeiro de 1979, novamente a população voltou às ruas para comemorar. Acontecia a implantação definitiva de Mato Grosso do Sul.

O presidente Geisel veio a Campo Grande no dia 3 de janeiro para hastear pela primeira vez a bandeira do novo Estado. A solenidade aconteceu no Estádio Morenão, ao lado de Harry Amorin da Costa, primeiro governador de MS.

Quase 45 mil pessoas aplaudiram o discurso do presidente, enfatizando que a divisão ajudaria a tornar mais forte os dois estados.

Fonte: Milena Crestani/Correio do Estado

Há 38 anos, neve era registrada na região Sul do então Mato Grosso uno

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O velho Mato Grosso amanheceu gelado em 17 de julho de 1975, 38 anos atrás. Geada, morte e prejuízos; é o frio que trouxe a neve(confira abaixo) foi a manchete de página do jornal Correio do Estado, cuja redação ainda funcionava na Rua 14 de Julho. Sob o impacto de 2 graus negativos, uma grossa camada de gelo cobria casas, parte de algumas ruas, lavouras e automóveis. Poças d’água congelavam numa espessura de dois a seis centímetros. O mais forte fenômeno na história agrícola do velho Estado de Mato Grosso pôs fim à cafeicultura nos estados de São Paulo e Paraná, eliminando também as lavouras em fase de crescimento na região sul-mato-grossense. Seria a primeira grande safra financiada pelo Banco do Brasil dentro do plano de revigoramento lançado pelo governo federal, em 1973. Estimavam-se na época queimas totais em 40 milhões de pés. Só Gabriel Abrão perderia cinco milhões de cruzeiros de seus investimentos nas lavouras.

Edição de 18 de julho de 75 mostrava prejuízos no dia anterior (Foto: Correio do Estado/Arquivo)
Edição de 18 de julho de 75 mostrava prejuízos no dia anterior (Foto: Correio do Estado/Arquivo)

Na cobertura da mais intensa onda de frio ocorrida em terras mato-grossenses, o editor-chefe do Correio, Antonio João Hugo Rodrigues telefonava para os correspondentes de Corumbá, Ponta Porã, Dourados e Bandeirantes, respectivamente, José Feliciano Baptista Neto, Byron Medeiros, José Santos Rocha e Paulo de Tarso Hugo Rodrigues. E deles recebia preciosos relatos. O gelo cobria o Parque das Primaveras e os seus arredores, perto do Lago do Amor. A geada também atingia o Jardim dos Estados, o Bairro Coronel Antonino, Rochedinho e Indubrasil (o ponto mais elevado do município). Percorrendo a cidade e fotografando estavam Antonio João, Fausto Brites, Hordonês Echeverria e Jorge Sayegh.

A terceira vítima do frio entristecia a Redação: era o mendigo Martins Rodrigues de Oliveira, 61 anos, natural de Amambai, encontrado morto próximo ao albergue noturno, na Rua Visconde de Taunay. Do Pantanal, a informação da morte de pelo menos 20 mil cabeças de gado não traduzia todas as conseqüências do clima. Afinal, somente na última cheia havia morrido cerca de trezentas mil reses. A geada castigava toda a região. Ponta Porã, com quatro graus negativos, era outro retrato nu e cru do fenômeno que degolou as lavouras de trigo naquele dia e nos dias seguintes.

Dourados treme. De frio e de medo, informava o Correio. Além da pecuária, perdas agrícolas também foram sentidas naquele município. Em toda a região da Grande Dourados (Itaporã, Glória de Dourados, Fátima do Sul e Rio Brilhante) as perdas assustavam. Técnicos agrícolas não ousavam avaliar corretamente os danos causados. O gado morria nos currais. Acostumados com o frio em seus estados, gaúchos e catarinenses assustavam-se. O fazendeiro Nelson Alves Ferreira, do distrito de Vila Cruz, resumia a situação: “O gado está morrendo igual à mosca envenenada”.

O granizo obrigava os peões a se desdobrarem para transportar o gado a lugares seguros. Estrada adentro, impotentes, os vaqueiros viram o gado morrer ali mesmo perto de Vila Cruz e em seguida serem carneados por indígenas, que levavam as partes traseiras e abandonavam o restante à beira do caminho. A cafeicultura nascente na região sul-mato-grossense sofria o maior golpe em toda a sua existência: tudo fora queimado, “um desastre total”, revelava nossa reportagem. Os cafezais ficavam com aparência de um chocolate escuro. O produtor Gabriel Abrão informava que a estimativa de safra de 30 mil sacas reduzia-se a zero. O Professor Barbosa Rodrigues perderia 60 mil pés. Abatido diante dos dois graus negativos que também atingiram as lavouras de Camapuã, Abrão declarava: “Tudo está liquidado, não restou nada”.

Por Montezuma Cruz (Correio do Estado)