UEMS: Pesquisa mostra que fogo por fatores naturais pode ser aliado de certas sementes de plantas do Cerrado

 

Fogo no cerrado: Inimigo ou aliado? À primeira vista pode não haver dúvida: o fogo, com certeza, é inimigo. Entretanto, pesquisa de doutorado realizada dentro do Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS), ressalta que o fogo que causa mal ao cerrado é o fogo provocado por seres humanos, já que este ambiente é adaptado ao fogo causado por fatores naturais e as altas temperaturas. Ou seja, quando causado naturalmente, o fogo pode ser aliado para a germinação de algumas espécies de plantas.

 

Este é o resultado da pesquisa intitulada “Fogo: Inimigo ou aliado? Influência de altas temperaturas na ecofisiologia da germinação e crescimento inicial de espécies nativas do cerrado sensu stricto”, de autoria de Fernanda Soares Junglos no doutorado no Programa de Pós-Graduação em Recursos Naturais, sob orientação do professor Etenaldo Felipe Santiago.

 

A pesquisa explica que o fogo pode ser causado por fatores naturais, como raios, elevação na temperatura, combustão espontânea. Em algumas situações muito específicas, esse fogo não é prejudicial, pois as espécies estão adaptadas, já que as espécies do Cerrado têm uma tolerância maior em relação ao fogo natural, que tem menor frequência. Já o fogo causado por origem humana, que pode ser proveniente de bituca de cigarro ou de queimada proposital, por exemplo, normalmente, é de alta intensidade, ampla distribuição e com maior frequência, é prejudicial.

 

Fogo no Cerrado: Prejuízos ambientais e econômicos (Foto: Santiago, EF)

 

O estudo ressalta que, se por um lado o Cerrado é um sistema, no geral, adaptado ao fogo, a negligência, indulgência e afrouxamento de governos quanto ao cumprimento da legislação ambiental têm estimulado os abusos no uso e ocupação dos solos brasileiros, sendo registrados altos índices de queimadas nos grandes sistemas florestais tropicais.

 

O docente Etenaldo Felipe Santiago explana que enquanto o fogo natural ocorre em espaços de tempo maiores, o fogo antrópico (causado pelo ser humano) tem maior frequência, intensidade e também a amplitude de ocorrência. “Então, o fogo antrópico é, de maneira geral, prejudicial para o ambiente natural. O principal dano do fogo antrópico é a redução da diversidade biológica. Pelo fato dele ser muito frequente, ele acaba superando a capacidade de tolerância das espécies do cerrado. Mesmo as espécies do cerrado tendo uma certa tolerância, como o fogo é muito frequente, então o principal dano é a morte de animais e plantas, por não resistirem ao fator de impacto, que neste caso passa a promover e representar um estresse para o sistema”, destaca.

 

Tendo esta perspectiva, a proposta de doutorado de Fernanda Junglos foi estudar o efeito do fogo sobre a germinação de sementes de espécies nativas, levando em consideração também o tamanho das sementes.  As coletas das espécies de sementes de espécies comuns ao Cerrado (Anadenanthera macrocarpaBromelia balansaeDipteryx alataRandia armataSchinus terebinthifolia e Solanum lycocarpum) foram realizadas diretamente no Bioma. Foram feitas simulações com elevação de temperatura para avaliar o efeito deste fator sobre a germinação das sementes.

 

O principal resultado que a pesquisa traz é que para algumas espécies a elevação da temperatura favorece a germinação. As sementes de Bromelia balansae (conhecida como Caraguatá) e a Dipteryx alata (Baru) foram favorecidas pela elevação da temperatura. Com outras espécies, a elevação da temperatura foi prejudicial, por exemplo, uma espécie chamada Randia armata, que é uma espécie importante para a fauna, teve as sementes prejudicadas com a elevação da temperatura sendo a germinação nessa espécie afetada negativamente.

 

Detalhes de frutos e/ou flores de algumas das espécies utilizadas no estudo. (a) Frutos após a passagem do fogo e (b) flores de Bromelia balansae, (c) fruto e (d) flor de Solanum lycocarpum, (e) Frutos de Schinus terebinthifolia e flor de (f) Randia armata. Fotos: Fernanda Soares Junglos.

 

Como principais conclusões, os pesquisadores apontaram que, independentemente do tamanho da semente, a maioria das espécies testadas germinaram após a exposição à altas temperaturas, o que reforça a adaptação destas espécies e certa tolerância ao calor, por outro lado, as espécies (e dependendo do tamanho das sementes) respondem de modo distinto, podendo aumentar a germinação (sementes grandes de  B. balansae  e sementes de D. alata), diminuir (A. macrocarpa, R. armata, e sementes grandes de Schinus terebinthifolia) ou manter os padrões germinativos (sementes pequenas de D. alata e de Schinus terebinthifolia).

 

Os pesquisadores reforçam que mesmo apesar algumas espécies do Cerrado serem favorecidas após algum tratamento de choque térmico, e o fato deste sistema ser adaptado ao fogo, são importantes as pesquisas e políticas públicas que colaborem para a sua preservação.

 

Fonte: UEMS

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