Universidade Federal da Grande Dourados: mestranda indígena é selecionada para bolsa do Movimento Parent in Science

Ao concorrer com 750 inscritas, Inair Gomes Lopes, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação e Territorialidade da Faculdade Intercultural Indígena da Universidade Federal da Garnde Dourados (UFGD) UFGD), conquistou uma das 24 bolsas de auxílio financeiro do Programa AMANHÃ, desenvolvido pelo Movimento Parent in Science (Mães e Pais na Ciência).

 

Esse programa tem como objetivo garantir a permanência das estudantes mães nos cursos de pós-graduação neste contexto agravado pela pandemia de covid-19. As dificuldades de conciliação da maternidade com a pós-graduação aumentaram depois das medidas necessárias para conter o contágio pelo novo coronavírus. Um estudo realizado pelo Programa AMANHÃ, com a participação de aproximadamente de 10 mil alunos de pós-graduação do Brasil, demonstrou que, neste momento, menos de 10% das alunas de pós-graduação que são mães estão conseguindo seguir normalmente com o desenvolvimento de suas dissertações e teses em contraste com 20% dos pais e cerca de 35% dos homens e mulheres sem filhos.

 

Inair Gomes Lopes faz parte dessa estatística. Por causa da pandemia e dos cortes no orçamento, ela foi dispensada da escola onde trabalhava na Aldeia Pirakua, localizada na cidade de Bela Vista (MS). Ela é indígena da etnia Kaiowá, tem 29 anos e é formada na habilitação em Ciências da Natureza da Licenciatura Intercultural Indígena – Teko Arandu, da UFGD. A renda como professora era importante para o sustento da família formada por Inair, seu companheiro e dois filhos pequenos, um menino de três anos e uma menina de sete.

 

Agora com a bolsa do Programa AMANHÃ ela terá suporte para prosseguir estudando e em breve tornar-se mestre em Educação e Territorialidade. “Esse auxílio é de suma importância para continuar seguindo firme e concluir minha pesquisa. Ele estará contribuindo com as despesas necessárias para meus estudos, como internet, impressora, entre outros meios de comunicação e da tecnologia da informação”, contou Inair.

 

Mais do que obstáculo, a pandemia virou parte do estudo. Ela entrou no mestrado em março de 2020 e o seu projeto de pesquisa é intitulado Tembi’u ymaguare Nemombarete: Alimentos Tradicionais Kaiowá na aldeia Pirakua. Com seu projeto e a participação no grupo de pesquisa em Etnobiologia e Conservação da Biodiversidade da UFGD, Inair produziu um artigo científico com os colegas do grupo e a orientadora Laura Jane Gisloti, que foi publicado na Revista Brasileira de Agroecologia. O artigo trata da importância do conhecimento tradicional das plantas medicinais dos povos Guarani e Kaiowá como estratégia para o enfrentamento dos sintomas gripais de Covid-19.

 

A partir de sete estudos etnobotânicos foram listadas quais são as plantas usadas no trato do sistema respiratório e confeccionado um levantamento de dados com informações sobre as espécies encontradas. De todas as catalogadas, 27 (87,1%) são plantas nativas dos domínios fitogeográficos brasileiros, enquanto quatro (12,9%) são espécies exóticas. As espécies mais citadas foram Cedrela fissilis (Fabaceae) e Moquiniastrum polymorphum (Amaranthaceae), popularmente conhecidas como as árvores cedro e cambará, respectivamente. O trabalho completo pode ser acessado em: http://revistas.aba-agroecologia.org.br/index.php/rbagroecologia/article/view/23271.

 

MÃES E PAIS ESTUDANTES INDÍGENAS

 

Um dos tópicos do informativo Mulheres e Maternidade no Ensino Superior no Brasil, publicado este ano pelo Movimento Parent in Science, aborda a sub-representação das mulheres negras e indígenas na universidade. Enquanto que 54% da população brasileira se autodeclara preta e parda, somente 0,68% dos estudantes matriculados são indígenas e entre as mulheres acima de 25 anos com ensino superior completo no Brasil, 17,7% são mulheres brancas e 6,7% são mulheres pretas e pardas.

 

O informativo defende que “a falta de representatividade na Academia cria um ambiente universitário sem a sensação de pertencimento para as mulheres, especialmente as negras, indígenas e pessoas com deficiência”.

 

Porém, os números se invertem quando se trata de estudantes com filhos. Considerando homens e mulheres, um em cada 10 alunos de graduação nas instituições de ensino superior federal possui filhos e entre os que têm filhos, 46,2% são indígenas aldeados, 20,2% são indígenas não aldeados e quilombolas, 12,9% são negros e somente 8,3% são brancos. O que, de acordo com o estudo, torna fundamental que as instituições tenham medidas de apoio para alunos com filhos, como por exemplo, creche universitária, salas de amamentação e auxílio creche.

 

Observando esses dados fica ainda mais clara a importância da mestranda indígena Inair Gomes Lopes, da UFGD, ter sido contemplada pela bolsa do Programa AMANHÃ. Dessa forma o Movimento estaria contribuindo para a diversidade na produção científica ao mesmo tempo em que combate o efeito tesoura (a proporção de mulheres na ciência vai caindo com a progressão da carreira), que é seu principal foco.

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