Bom Retiro e Aldeia Água Bonita: empreendedorismo social em Campo Grande, exemplos que inspiram comunidades

Do latim “inspirare” o verbo inspirar tem entre seus diversos significados no dicionário, o de estimular, com beleza, encanto, e virtudes, a capacidade criativa. Já o conceito de empreender, vai muito além de criar um negócio visando retorno financeiro, significa promover ações capazes de mudar uma realidade.

 

As descrições acima poderiam se encaixar em diversas pessoas, mas hoje o destaque será para dois homens simples, que buscam transformar o mundo e melhorar a vida das pessoas da comunidade onde vivem. Apesar de não se conhecerem, ambos compartilham a vontade de fazer a diferença pelo coletivo, e tem em comum a melhoria da qualidade de vida a partir de programas habitacionais do Governo do Estado e Prefeitura de Campo Grande, que levaram desenvolvimento para a comunidade Bom Retiro, e Aldeia Água Bonita.

 

Bom Retiro

 

Aos 32 anos, o jardineiro Rogério Silva, é uma grande referência para os moradores do Bom Retiro, onde residem 560 pessoas que antes, viviam em barracos de lona no antigo lixão. Com a transferência ocorrida há três anos, as famílias tiveram a oportunidade de recomeçar, e por intermédio dele, celebram cada nova conquista. Basta conhecer alguns moradores para ouvir falar deles. “Um grande incentivador da comunidade”.”É quase um filho pra mim”. E por aí vai.

 

“Esse é mais um exemplo de que podemos ir além. Temos que alimentar nossos sonhos e buscar eles sim”

 

“Conseguimos aqui linha de ônibus, que antes não tinha, hoje tem duas. Conseguimos, uma área de lazer, playground para as crianças, academia ao ar livre, com uma pista de caminhada ao entorno”, conta orgulhoso do progresso. Porém faz questão de afirmar que a conquista não é dele, e sim dos moradores.  “Sem a força de vontade deles, isso aqui não teria. Isso aqui é uma família” conta Rogério.

 

Os olhos de Rogério brilham mesmo, quando fala da horta comunitária idealizada com objetivo de mostrar às pessoas, que elas são capazes de fazer a diferença. “Esse é mais um exemplo de que podemos ir além. Que temos que alimentar nossos sonhos e buscar eles sim”, afirma, mostrando a horta repleta de hortaliças.

 

 

Com apenas dois meses de existência e muita dedicação, a comunidade já colhe os “frutos” da iniciativa. A primeira grande colheita, no dia 6 de agosto, foi direto para a creche Meimei, onde os “filhos” do Bom Retiro foram acolhidos desde que chegaram ao novo endereço. “Essa casa MeiMei em 2016 foi um dos nossos pilares. Chegamos aqui a meio maço de prego e um pedaço de lona, numa remoção de uma favela que era a Cidade de Deus. Essa casa nos deu um apoio, e atende nossas crianças até hoje, enquanto as mães trabalham na construção das nossas casas ou aqui na horta. É um gesto de gratidão”, descreve.

 

Antes da horta, ele buscava quebras do Ceasa e distribuía na comunidade. “Mas eu peguei e pensei assim né? Se a gente tem terra aqui, por que não arriscar, e tentar produzir nosso próprio alimento, dentro da comunidade? As vezes parecia assim meio que uma maluquice”, conta recordando o passado. “Às vezes a gente olha foto do antes e depois e se sente orgulhoso. Igual eu falo pra eles, daqui um tempo a horta vai ficar para trás, e a gente vai fazer outras coisas. Vai continuar na horta, mas vamos traçar novos objetivos”, afirma.

 

A mensagem final dele é para a sociedade em geral que desconhece o modo de vida da periferia. “Essa é a comunidade Bom Retiro que poucos conhecem. De nunca perder a esperança de ter uma vida melhor. Nós temos uma história. Uma história rica, de superação. Aqui são pessoas ajudando pessoas”.

 

Aldeia Água Bonita

 

A 13 quilômetros do Bom Retiro, já na região rural da Capital, temos outro exemplo de inspiração. O indígena Alder Romeiro Larreia, é conhecido como o professor pardal da Aldeia Água Bonita, por não impor limites na hora de idealizar projetos que fortaleçam a cultura e que fomentem o comércio local. “Nós aqui, somos uma cultura diferente. Temos que mostrar que somos capazes”. De um jeito simples, Alder já implantou com sucesso a horta comunitária que funciona como fonte de renda para 23, das 135 famílias que ali residem. “Cada espaçozinho desse é uma família que cuida. São 1000 m². E a horta comunitária gera uma renda média de um salário minimo mensal para cada uma”, explica.

 

 

Com cinco anos de funcionamento da horta, Alder afirma que foi persistente, e agora de fato o negócio “engrenou”, e as produções são comercializadas no Ceasa, em feiras, mercados próximos, e no Projeto Saladão, que percorre diversas regiões da cidade com produtos da agricultura familiar. “As famílias que saem daqui para vender os produtos no ônibus, vêem outras coisas, e falam: sr. Alder nós não podemos plantar só alface, temos que plantar couve flor e brócolis também. Entende? Tudo você precisa é mostrar para eles (indígenas) que eles podem sempre mais”, pontua.

 

Outra iniciativa em fase de implantação pelo indígena, é a produção de frango semi-caipira. “As galinhas é assim, cada 45 dias dá um lucro de R$ 1.080 ao preço que esta hoje de R$ 25,00 cada. O frango é vendido na comunidade, como também é vendido nos mercados”. Segundo ele a ideia é gerar renda dentro da própria comunidade. “A ideia é trazer renda, sem precisar procurar outra coisa”.

 

Alder mostra o tanque onde fez os testes para projeto de piscicultura

 

Já em fase de testes, o projeto de produção de peixes em tanques, é outra ideia que Alder quer colocar em prática e envolver mais famílias da comunidade. “Fizemos teste aqui neste tanque. Deu certo porque ele não morreu, nós é que comemos o peixe. Com motor de geladeira, fiz um soprador de ar para mandar oxigênio para ele, e deu certo”, conta, afirmando que em breve irá testar em grande escala. Acha que acabou? A imaginação de Alder não pára, e ele fala de outra iniciativa que pretende implementar. “Um projeto de flor ainda para ser implantado esse ano ainda, para seis famílias. Vamos plantar flor em seis estufas, e dar emprego para mais dez pessoas” conta animado.

 

Orgulhoso, ele conta que durante o encontro da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Aldeia Água Bonita recebeu a visita de estrangeiros. “Veio os alemães e americanos da SBPC aqui, e não acreditaram que o índio podia fazer tudo isso”. Cheio de ideias o indígena de 38 anos, conta que chegou a cursar alguns semestres de agronomia, mas que não concluiu, e que sua formação foi a escola da vida, e o curso de técnico agrícola. O sonho de Alder, é preservar a cultura para as gerações futuras, e mostrar que todos são capazes. “Não queremos dada as coisas, nós estamos querendo fazer a nossa parte também! O objetivo maior é que nossa comunidade seja autossustentável. Nós somos capazes”, finaliza.

 

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