Primeira investigação aponta existência de Cryptococcus neoformans em algumas escolas municipais da Capital

Pesquisa realizada no Programa de Pós-Graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul)  relatou, pela primeira vez na região Centro-Oeste do Brasil, a presença de Cryptococcus neoformansem (foto ao lado) excrementos de pombos, em escolas municipais de Campo Grande.

 

Com o título “Investigação de Cryptococcus no ambiente escolar em Campo Grande/MS”, a pesquisa foi feita pelo mestrando, biólogo e professor Dario Corrêa Junior, com orientação da professora Marilene Rodrigues Chang (Faculdade de Ciências Farnacêuticas, Alimentos e Nutrição – Facfan).

 

Resultados parciais desta pesquisa foram recentemente apresentados no Congresso Latino Americano de Microbiologia, em Santiago, no Chile. Durante seu mestrado, o pesquisador realizou curso de diagnóstico molecular para infecções fúngicas na Fiocruz (RJ) e de identificação molecular de Cryptococcus no Instituto Adolfo Lutz (SP).

 

Cryptococcus são os agentes etiológicos da Criptococose, uma micose sistêmica que afeta principalmente indivíduos imunocomprometidos. Esta doença é causada pela inalação de esporos de leveduras que estão dispersas no ambiente. Portanto, a vigilância da distribuição de Cryptococcus na área urbana é necessária para contribuir para a epidemiologia e ecologia do fungo”, explica o pesquisador.

 

Leveduras do complexo C. neoformans afetam principalmente indivíduos imunocomprometidos como aqueles com HIV/AIDS e é encontrado em áreas urbanas, especialmente em excrementos de pombos. Cryptococcus gattii causa infecção geralmente em indivíduos imunocompetentes e é isolado em madeira em decomposição, como em árvores ocas.

 

Pesquisa nas escolas

 

Após realizar na iniciação científica estudo de amostras clínicas do fungo, no Mestrado, Dario, como biólogo, se interessou em fazer pesquisa desses fungos no ambiente, onde os migro-organismos estão normalmente presentes. “Muitas pessoas alimentam os pombos. Nas escolas, as crianças deixam cair ou jogam migalhas para as aves sem saber que os excrementos delas podem ser perigosos, pois estes materiais contêm nutrientes para os Cryptoccocus”.

 

Sabe-se que em Campo Grande existem grande quantidade de pombos em diversos lugares. “Como pesquisador e professor, achei importante investigar a presença destes patógenos no ambiente escolar”, relata o pesquisador, que esteve nas 85 escolas da Rede Municipal de Ensino de Campo Grande e constatou que em 60 havia pombos.

 

“Resumidamente, os excrementos coletados foram misturados com salina e antibiótico para inibir o crescimento de bactérias, assim  o fungo foi cultivado em meios de culturas no Laboratório de Pesquisas Microbiológicas da Facfan/UFMS”.

 

Apesar de o fungo ter sido isolado em apenas três escolas, o alerta é importante, tendo em vista que excrementos secos das aves

Pesquisador Dario fez coleta nas escolas

podem ser dispersos pelo vento. “Além disso, os pombos voam para a redondeza e podem carrear esse fungo. O pombo não fica doente, é apenas um reservatório”, afirma o pesquisador.

 

Diagnóstico da Criptococose

 

O diagnóstico desta doença nem sempre é fácil, visto que sintomas (dor de cabeça e na nuca, rigidez, visão turva, expectoração entre outras) se confundem com outras enfermidades. Em casos de meningite e infecção de corrente sanguínea, não há como diferenciar por sinais e sintomas, se as infecções são causadas por bactérias ou por fungos.

 

A identificação do agente por meio de exames laboratoriais é essencial para o tratamento e boa evolução do enfermo. Pacientes com suspeita de criptococose são normalmente encaminhados para centros especializados e hospitais que realizam diagnóstico e tratamento de pacientes com Doenças Infecciosas e Parasitárias (DIP), como o Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian (HUMAP) – que atende cerca de 18 casos de criptococose por ano.

 

 Prevenção e Controle de Pombos

 

Pesquisador Dario e a professora Marilene Rodrigues Chang

A respeito do controle de infestação de pombos e de outros animais, sabe-se que cada escola recebe uma verba governamental e decide como fazer o controle. Algumas escolas providenciam telas e outras formas de contensão alternativa como uso garrafa pet na estrutura do telhado. Segundo relatos, o uso de bombinhas e/ou fogos de artificio também já foram utilizados para espantar essas aves.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda limpezas periódicas com água e sabão, sanitização de ninhos e inativação de ovos. Outras técnicas para dispersar essas aves em centros urbanos incluem as chamadas “fitas espanta pombos”, sons gravados de aves predadoras naturais (como coruja e falcão) e repelentes ultrassônicos disponíveis no comércio. “O problema é que o pombo volta a fazer ninho, rasga as telas, fura a garrafa pet. É bem difícil o controle”, aponta Dario.

 

Dada a relevância do tema, um dos objetivos do Mestrado foi possibilitar a produção de material didático para o ensino da Criptococose aos professores da Rede Municipal de Ensino da Capital. Para alertar escolas e professores sobre a doença, foi idealizado o projeto de extensão “Criptococose – uma doença transmitida por pombos”, com a realização de palestras e entrega de cartilha didática. “As pessoas em geral não conhecem a doença, poucos ouviram falar de Criptococose”, comenta Dario.

 

Cerca de 180 professores das 85 escolas da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande (SEMED) devem participar do projeto de extensão. O mestrando irá abordar a parte ambiental, coleta de amostras e pombos; a médica infectologista professora Anamaria Mello Miranda Paniago abordará diagnóstico clínico da criptococose e a farmacêutica-Bioquímica professora Marilene Rodrigues Chang irá mostrar como é feito o diagnóstico laboratorial dessa doença.

 

Na dissertação, Dario irá propor medidas sanitárias para o controle dos pombos, que não podem ser mortos, apenas controlados. “Vamos alertar sobre medidas como não alimentar os pombos, contratar empresas de dedetização para eliminar os ninhos que são os focos de proliferação deles, uso de telas e outras alternativas de contensão”.

 

Fonte: UFMS

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